31 de maio de 2007

Um dia destes, enviei um e-mail a Amy Blanchard, autora de um dos blogs mais interessantes que conheço relacionados com Spina Bifida, versando particularmente um tema ainda muito pouco abordado em Portugal e no mundo: a maternidade/paternidade das pessoas com deficiência. Pedi-lhe um texto: algumas palavras sobre o que sentia a partir da sua experiência de vida. A Amy é mãe de uma criança que olha para ela de igual para igual, fazendo jus àquela ideia de Pessoa, quando escrevia que somos da tamanho daquilo que vemos e não do tamanho da nossa altura.

Fica o texto e a tradução, digamos, possível. O outro, da troca, está no blog da minha amiga Amy.

Ah - ela, a Amy, tem Spina Bifida.

Na semana que passou estive a ver um interessante programa de televisão. Era relacionado com a vida de um soldado norte-americano que, recentemente, esteve presente na actual guerra contra o Iraque, e que, agora, recupera das feridas que a guerra lhe causou. Especificamente, este soldado perdeu um braço nas lutas que travou e estava agora a aprender como trabalhar com um braço mecânico e a viver a vida de uma forma diferente.

Ah, outra coisa – Este soldado era uma mulher.

A determinada altura, o entrevistador perguntou-lhe se tinha, agora, uma boa vida social. Se tinha namorado. Se pensava em ter filhos.

Sim, sim e não sei eram as respostas que ia dando. Sim, a sua vida social era óptima, tinha um namorado maravilhoso. E sim, adoraria ter um filho um dia destes. Mas ela não sabia. Ela não tinha a certeza se a criança poderia amá-la como ela era – uma mãe “partida”, só com um braço.

Fiquei muito triste por ouvi-la dizer aquilo. Triste e chocada. Que dura estava ela a ser para ela própria!

Uma criança amará os seus pais. Sejam eles saudáveis, Tenham alguma deficiência, estejam em casa, estejam fora, sejam brancos, pretos, púrpura ou azuis. Intuitivamente, uma criança entenderá muitas coisas – inclusive como amar. Sugerir que o nosso próprio filho não nos amará porque só temos um braço ou porque usamos uma cadeira de rodas ou canadianas ou (como eu própria) uma bengala, ou porque temos uma deficiência física ou mental parece-me ridículo. A minha filha ama-me inteiramente. Ela ouve-me, brinca comigo, e sabe o que eu sou e se estou ou não apta a fazer isto ou aquilo. As outras crianças do pré escolar olham para mim e fazem-me perguntas sobre as minhas órtoteses e a bengala. Mas a minha filha nunca me olhou de lado. Nunca fez perguntas. Sou a sua mãe, de forma pura e simples. Amo-a, tomo conta dela, brinco com ela. E é só disso que ela se importa – é tudo o que importa a uma criança.

Depois, umas duas semanas atrás, o João mandou-me um e-mail com o seu texto (que agora publico no meu blog, aqui, hoje mesmo) sobre o que é ser um homem com Spina Bifida num país como Portugal. Queria saber se ele gostaria, um dia, de ser pai. Se sabia se outros adultos com Spina Bifida em Portugal eram pais. Como era a vida de um pai com esta deficiência nesse país.

Fiquei, novamente, muito triste ao ler que, tanto quanto ele sabia, muito poucos adultos com Spina Bifida em Portugal eram pais. E ele é membro da direcção da associação Portuguesa para a Spina Bifida e Hidrocefalia – ASBIHP! Foi muito triste saber que, genericamente falando, os adultos com deficiência não têm nem informação, nem encorajamento nem os recursos necessários disponíveis para ir ao encontro dos seus sonhos de constituir família.

Sinto que cada um de nós que queira ser mãe ou pai deve estar apto para isso. Sim – Pesquisem. Encontrem o apoio necessário. Percebam naquilo em que se estão a meter. Deverão recorrer à adopção ou estão aptos a lidar com uma gravidez? Tentem saber o bastante acerca de vós próprios de forma a compreender quando deverão pedir ajuda e quando se sentirão confortáveis a fazer o que podem realmente fazer. Não fiquem sozinhos se tiverem que pedir ajuda. Mas façam sempre o que puderem com o vosso coração.

Se acreditares, Chegas lá! Acredito plenamente nestas palavras e vivo por elas. No que respeita a ser pai ou mãe, é uma dádiva que receberás e que te irá, constantemente, surpreender, fazer-te rir, fazer-te chorar, e encher o teu coração e a tua alma com a melhor de todas as formas de amor – o amor incondicional.

Amy Blanchard

Abaixo, está uma imagem do texto original.






(thank you so much, Amy! And sorry about the zone time effect... :-))