21 de agosto de 2007

Do ponto de vista de quem a tem, a pertinência das questões relacionadas com Spina Bifida está normalmente centrada num ponto:
a sexualidade, uma característica humana, normal entre humanos, e as pessoas com Spina Bifida, sendo humanas, não estão afastadas deste plano. Neste caso, os homens com Spina Bifida não estão afastados deste plano.

Uma coisa é a forma como vês ou não vês a tua sexualidade. Outra forma é o modo como os cientistas a dispõem, que pode, em alguns casos, ajudar-te a veres como pode ser a tua, como é ou como não é. É por isso que, apesar de serem muito poucos, há estudos sobre estas coisas. Um deles, levado a cabo por uma equipa de cientistas na Suécia e publicado em 2000 no Journal do polo de Medicina do Desenvolvimento e Neurologia Pediátrica da Universidade de Cambrigde, relaciona, do ponto de vista masculino, a função reprodutiva com a função eréctil e a capacidade de ejaculação num grupo de indivíduos com Spina Bifida.

Não obstante a possível timidez ou falta de auto-estima (ou ambas, ou outras, ou pior ainda) – sim: de uma forma ou de outra podes, em princípio, fazer filhos, mas tudo dependerá da qualidade do teu esperma. E para veres isso, há exames médicos. Normalmente, o esperma é mais pobre que o da generalidade dos homens porque a sua qualidade pode estar comprometida pelas infecções urinárias que possas ter tido, bem como outras complicações decorrentes da possibilidade de teres incontinência. No entanto, este estudo - Semen retrieval and analysis in men with myelomeningocele – refere já a possibilidade, em 2000, da possibilidade, então apurada, de 6 em 9 homens serem férteis, aumentar ainda mais com o avanço das tecnologias de reprodução assistida e do tratamento, se necessário, da disfunção eréctil.

Outro artigo, este bem mais recente (deste mês), publicado num journal pediátrico norte-americano – Pediatric News -, redigido por Eric Levey, (pediatra e director do centro Philip A. Keelty para a Spina Bifida e condições desta derivadas, em Baltimore, nos Estados Unidos) refere, acerca de alguns estudos científicos sobre o assunto (provavelmente, relacionados com a realidade norte-americana), serem 70% dos homens capazes de erecção (variável consoante o grau de lesão) e 40% capazes de ejaculação.

Não há uma sexualidade, já o sabemos. Há sexualidades, e isto não é, hoje, uma forma descarada de fugir às questões, como antes se poderia pensar. Ir ao médico (neste caso, ao urologista ou ao andrologista) será sempre o primeiro passo, caso o queiras dar. No entanto, é sempre bom saber que é, em princípio, possível teres um filho. E é bom saber que isso não implica uma sexualidade normal, porque uma sexualidade normal, a existir tal coisa, seria mais difícil que encontrares um trevo na tromba de um elefante (passe a mensagem subliminar...)


imagem: uno, de fabio lattanzi antinori, imagem digitalizada em alumínio, 100*200cm, 2004, aqui