Independentemente das motivações que levam José Lima a percorrer o país em cadeira de rodas, é notável a forma como está a fazê-lo. José Lima, paraplégico, deficiente motor e, consequentemente, consciente das dificuldades de integração num país à beira da desintegração, pegou em si, montou-se numa cadeira verdadeiramente parecida com um daqueles engenhos a que fiz referência no post de 18 de Julho, e fez-se à vida.
Entre Viana do Castelo, no Norte, e Faro, no Sul, e uma distância de 731 quilómetros, num total de 20 etapas que perfazem uma média de 30 a 40 quilómetros por dia, Lima, acusando os políticos portugueses de nada fazerem e de serem hipócritas, vai, em cada uma das cidades onde pernoitará, vender os livros que escreve enquanto vence mais uma noite, numa cadeira em trânsito unicamente patrocinada por uma empresa de Perafita, uma localidade do Norte de Portugal.
José Lima, apesar de ter tido a coragem de dizer o que muitos já sabem e o que outros muitos ainda não sabem – que não existe, de facto, uma associação que represente, de forma global e isenta, as pessoas com deficiência neste país – parecia, à partida, sentido com o mundo, o que provocava em si uma aparente falta de força e uma voz que descia de tom a cada entrevista.
Mas está, existe, continua a correr. É provável que, talvez por ser uma voz incómoda, não veja a chegada a Faro coberta por um exército de jornalistas. Afinal, José Lima não joga futebol, não projecta aeroportos, não é comentador televisivo nem sequer mostra um ar de contentamento enfelizado (palavra que ainda agora inventei e que significa, acho eu, mostrar descaradamente um sorriso amarelo como se a felicidade tivesse varrido a cabeça do contemplado com este projecto de adjectivo) perante as coisas do mundo.
José Lima existe. Não o conheço. Mas existe, é natural de Ponte de Lima, vive em Viana do Castelo, tem 52 anos e está a fazer uma volta a Portugal, por mim e por nós todos.
Um apontamento: não cito fontes. A notícia, embora estranhamente breve, é do conhecimento público, os dados desta notícia foram recolhidos em vários sítios e alguns deles, em boa verdade, usam um léxico descritivo perfeitamente lamentável – José Lima tanto está sentado numa cadeira de rodas como está confinado a uma cadeira de rodas como até é atirado contra uma cadeira de rodas, não vá o homem aleijar-se.
É aqui que a comédia roça a tragédia, e tudo se faz, normalmente mal feito.
Entre Viana do Castelo, no Norte, e Faro, no Sul, e uma distância de 731 quilómetros, num total de 20 etapas que perfazem uma média de 30 a 40 quilómetros por dia, Lima, acusando os políticos portugueses de nada fazerem e de serem hipócritas, vai, em cada uma das cidades onde pernoitará, vender os livros que escreve enquanto vence mais uma noite, numa cadeira em trânsito unicamente patrocinada por uma empresa de Perafita, uma localidade do Norte de Portugal.
José Lima, apesar de ter tido a coragem de dizer o que muitos já sabem e o que outros muitos ainda não sabem – que não existe, de facto, uma associação que represente, de forma global e isenta, as pessoas com deficiência neste país – parecia, à partida, sentido com o mundo, o que provocava em si uma aparente falta de força e uma voz que descia de tom a cada entrevista.
Mas está, existe, continua a correr. É provável que, talvez por ser uma voz incómoda, não veja a chegada a Faro coberta por um exército de jornalistas. Afinal, José Lima não joga futebol, não projecta aeroportos, não é comentador televisivo nem sequer mostra um ar de contentamento enfelizado (palavra que ainda agora inventei e que significa, acho eu, mostrar descaradamente um sorriso amarelo como se a felicidade tivesse varrido a cabeça do contemplado com este projecto de adjectivo) perante as coisas do mundo.
José Lima existe. Não o conheço. Mas existe, é natural de Ponte de Lima, vive em Viana do Castelo, tem 52 anos e está a fazer uma volta a Portugal, por mim e por nós todos.
Um apontamento: não cito fontes. A notícia, embora estranhamente breve, é do conhecimento público, os dados desta notícia foram recolhidos em vários sítios e alguns deles, em boa verdade, usam um léxico descritivo perfeitamente lamentável – José Lima tanto está sentado numa cadeira de rodas como está confinado a uma cadeira de rodas como até é atirado contra uma cadeira de rodas, não vá o homem aleijar-se.
É aqui que a comédia roça a tragédia, e tudo se faz, normalmente mal feito.
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