17 de outubro de 2007


Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza: diz o povo, e bem, que de barriga vazia não se faz filosofia. De barriga vazia, as ideias são turvadas pelo esgar de azedume de um estômago que pede mais, de um corpo exausto, vazio daquilo que nos alimenta e, paradoxalmente, nos destrói. Quod me nutrit me destruit. Mesmo sabendo que da dor de fome não há nada a dizer – apenas a fazer -, há que dizer que muita da fome do alimento que nos mantém deriva, e digo-o por puro inconformismo, de uma outra forma de pobreza que alimenta a anterior: a pobreza de espírito.

A fome ou a pobreza já não são um assunto exclusivo às pessoas com deficiência. Mas as pessoas com deficiência podem, eventualmente, estar, como outras de outros grupos de pessoas, estar mais vinculadas à pobreza. Por fagilidade. Por impossibilidade física de ir ao encontro da luta. Por falta de ânimo.

Ter fome é não ter liberdade. E há quem tenha liberdade para dar liberdade, mas não queira. Essa, sim, seria a melhor forma de erradicar a pobreza, erradicando quem, privando-nos de alimento, nos priva de liberdade.A solução pode passar por uma mera imitação: a imitação da Natureza. as gaivotas, que roubam ao mar imitando o movimento do peixe, das ondas e da natureza que, ao confundir-se com as naturezas da natureza, não a pune.