Este blog é político. Mas é político naquilo que da política já não existe: é um instrumento de governação da Polis. Parece pretensioso, mas não é – a Polis é a cidade, são as pessoas, é a forma como encaixamos socialmente uns nos outros pelas instituições. Um blog que tem a pretensão de melhorar a cidade que há em cada um de nós e nas instituições não é um blog pretensioso: é ambicioso. Para o bem, para o mal e para o assim-assim, é ambicioso.
Hillary Clinton, um dos candidatos à presidência dos EUA, num discurso em New Hampshire, disse, tentando rebater os argumentos de um outro candidato, que as coisas não se governam com poesia. Ou porque não sabe ou porque não se lembra, esqueceu-se da lição europeia: de Aristóteles, de Ésquilo, de Séneca, de Hesíodo, de toda a Antiguidade Clássica e, em suma, dos fundamentos da educação e da simples transmissão de conhecimentos entre as pessoas. Deixou dois milhares de anos para trás: lá, antes de nós, estava a poesia, estava a Polis, estava a Política – a política que deveria continuar a estar. Mas que já não está, por contágio, na Europa. A tal Polis que falaria não por mim, não por ti, mas por nós.
Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.
Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.
Miguel Torga, Ariane
(poema escrito na prisão do aljube, em 1939)
Hillary Clinton, um dos candidatos à presidência dos EUA, num discurso em New Hampshire, disse, tentando rebater os argumentos de um outro candidato, que as coisas não se governam com poesia. Ou porque não sabe ou porque não se lembra, esqueceu-se da lição europeia: de Aristóteles, de Ésquilo, de Séneca, de Hesíodo, de toda a Antiguidade Clássica e, em suma, dos fundamentos da educação e da simples transmissão de conhecimentos entre as pessoas. Deixou dois milhares de anos para trás: lá, antes de nós, estava a poesia, estava a Polis, estava a Política – a política que deveria continuar a estar. Mas que já não está, por contágio, na Europa. A tal Polis que falaria não por mim, não por ti, mas por nós.
Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.
Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...
Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.
Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.
Miguel Torga, Ariane
(poema escrito na prisão do aljube, em 1939)
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