22 de fevereiro de 2008



O que ganhamos com as definições quando sabemos que apenas nos poderão levar a termos indefinidos? A pergunta foi feita no “livro Azul”, em 1965, por aquele que é uma das mentes mais brilhantes do século XX, senão mesmo a mais brilhante de todas: Ludwig Wittgenstein.
No entanto, deve ser por causa disso - uma certa obsessão pela indefinição - que, às vezes, olhamos para trás e pensamos que podemos não estar a ser compreendidos, que o contexto das nossas palavras pode estar a ser invisível, como certas coisas da alma, aos outros.

Aqui, julgo, para-se um pouco. E define-se que...


A spina bifida não é contagiosa.

A spina bifida não é necessariamente de carácter hereditário.

A spina bifida é uma malformação congénita (isto é, que ocorre necessariamente antes da nascença).

A spina bifida pode ser, em certa medida, evitada pela toma de ácido fólico por quem, por qualquer motivo, interrompe métodos contraceptivos.

A spina bifida nem sempre está associada a hidrocefalia e, mesmo que tal ocorra, à colocação de válvula (ou shunt, que é a mesma coisa).

A spina bifida nem sempre está associada a incontinência.

A spina bifida nem sempre está associada a dificuldades cognitivas.

A spina bifida nem sempre está associada a dificuldades de localização espácio-temporal.

A spina bifida nem sempre está associada a depressão.

A spina bifida nem sempre está associada ao aparecimento da malformação de Arnold-Chiari.

A Spina não está necessariamente associada a epilepsia.

A spina bifida não está necessariamente ligada à falta de auto-estima.

A spina bifida nem sempre está associada a questões de mobilidade e de acessibilidade.

A spina bifida tem muitos tipos de manifestação, mais ou menos sérios.

As pessoas com spina bifida não possuem graus de incapacidade necessariamente iguais.

A spina bifida não tem, por enquanto, cura.

As pessoas com spina bifida podem casar-se.

As pessoas com spina bifida podem - ou não - ter filhos.

As pessoas com spina bifida podem, consoante o tipo de malformação e com as devidas adaptações (se necessárias), trabalhar.

As pessoas com spina bifida podem, consoante o tipo de malformação e com as devidas adaptações (se necessárias), viver sozinhas ou em família (e não necessariamente institucionalizadas).

As pessoas com spina bifida podem, consoante o tipo de malformação e com as devidas adaptações (se necessárias), conduzir.

As pessoas com spina bifida não são assexuadas.

Ter spina bifida, por si só, não implica necessariamente benefícios fiscais ou outros normalmente associados às pessoas com deficiência.

A spina bifida, por si só, não implica necessariamente uma redução da esperança média de vida.

A spina bifida, por si só, não mata (embora moa...).


São factos.