29 de junho de 2007

A Spina Bifida, a Hidrocefalia e, de um modo genérico, a deficiência não valem, enquanto tema, por si só. Estamos confiados ao mundo e o mundo é a nossa situação. Julgo que antes de uma dor física, uma dor picante, existe, primordial e objectivamente, uma dor existencial, uma espécie de valor de preparação para a dor física, onde ela cabe e se afecta. Talvez por isso valha a pena falar do Mito de Pandora, uma história bela e sofisticada, eventualmente capaz de ajudar de alguém, algures, esteja onde estiver e onde se encontrar. Haja talento.

Por Zeus, Epimeteu foi incumbido de atribuir uma característica positiva a cada um dos animais. Quando chegou a altura de, como animal, dar uma característica ao homem, já nenhuma restava, porque o irmão de Epimeteu, Prometeu, demorou demasiado tempo a criá-lo. Por já não saber o que fazer e achar que o homem seria uma criatura superior a todas as outras, Prometeu entendeu que a seu irmão, Epimeteu, apenas restaria isto: atribuir uma característica ao homem que mais nenhum animal possuísse. Do Monte Olimpo, Prometeu roubou, assim, o fogo, e Epimeteu atribuiu-o à criatura humana.

Zeus não gostou, é bom de ver. Ninguém gosta que lhe cortem a luz. Enraivecido, aprisionou Prometeu, acorrentando-o e fazendo que com uma águia, todos os dias, comesse um pouco do seu fígado. Como Prometeu era um titã imortal, o seu fígado, mesmo assim, crescia. Mas a dor, insuportável, atormentava-o. Foi, entretanto, libertado.

Não satisfeito, Zeus tinha de castigar a humanidade. Criou a mulher, sob a forma de Pandora, que significa “aquela que recebe todas as dádivas”. Pandora tinha um pouco de tudo: Hefesto moldou-a do barro e deu-lhe forma; Atena vestiu-a; Afrodite concedeu-lhe a beleza; Apolo transmitiu-lhe talento musical e o dom de curar; Demétrio ensinou-a a jardinar; Poseidon deu-lhe um colar de pérolas e a capacidade de nunca se afogar; Hera deu-lhe a curiosidade e Hermes atribuiu-lhe a formosura e o charme.

Pandora, aquela que de todos recebeu. Mas a melhor de todas as dádivas foi uma jarra, que lhe foi concedida por Zeus.

Antes de ter sido acorrentado por Zeus, Prometeu foi avisado pelo seu irmão para ter cuidado com qualquer dádiva dos deuses. No entanto, já liberto das garras da águia, apaixonou-se por Pandora e casou com ela. Hermes avisou Epimeteu que Pandora era uma espécie de presente envenenado de Zeus a Prometeu. Disse-lhe ainda para avisar Pandora que nunca abrisse a jarra que Zeus lhe tinha oferecido.

Mas Pandora não resistiu. Abriu a jarra. Uma vez aberta, Pandora tratou de a fechar o mais rápido que pôde, mas dela já se tinham libertado os males do mundo – antes, um mundo fértil e pacífico. Apenas algo restou no fundo da jarra: a capacidade de prever o futuro, que trouxe, entretanto, a esperança, em tempos difíceis, às sociedades vindouras.

pesquisa: wikipedia
imagem: Pandora, por Jules Joseph Lefebvre (1836-1911), óleo em tela, 1882