16 de julho de 2007

Depois desta pequena nota, as imagens falarão, mais uma vez, por si. No entanto, julgo ser importante, sempre com a objectividade possível, referir o que considero poder ser um engano: na verdade, em Portugal e no mundo, existem pessoas que não saiem à rua por causa de carros estacionados desta forma. Existem pessoas que não saiem à rua por causa de outros carros, de outras ruas, de outros obstáculos, de outras formas de estar por cima dos outros, que ficam em si, por baixo de si mesmas, como que mentalmente esmagadas pelo egoísmo de pessoas que se consideram, na maior parte das vezes com orgulho, civilizadas, normalizadas, estáveis.

Civilização é cultura líquida, transparente, metamorfoseada, como uma maré cheia de todas as coisas que resvala, oscilante e intransponível, ziguezagueando as nossas plaquetas; mas, acima de tudo, é uma questão de respeito, de saber estar - mesmo, por vezes, não estando.

Não é preciso ir à escola para se ser civilizado. Mas é preciso saber que, às vezes, é preciso ir à escola quando é preciso ser civilizado.

Hugo Maia passou por cima daquele carro. Nada que eu próprio, de outras formas e por outros meios, não tenha já tentado fazer, na maior parte das vezes sem uma espécie de resultado-tapete. O mérito é seu e é preciso reconhecê-lo. No entanto, há quem não saia, volto a dizer, à rua por, em si por si dentro de si, não ter conseguido, já derrubado, levantar-se: como que uma queda interior, lenta e socialmente invisível. Ainda.

Pensemos todos nisto. Ou então não.