10 de julho de 2007



Eu perguntei.

M., alguém com Spina Bifida, aceitou o desafio.





Começando pelo fim: diz-me se és feliz.

Sou feliz. Conquistei várias coisas que muitos julgavam impossível, mas que eu, lá no fundo, sempre achei verosímil. E, perdoem-me, sinto-me mesmo orgulhosa por isso!!!

A tua relação com o espelho... gostas do teu reflexo?

Sim, mas há uma gordurinhas aqui e ali que teimam em ficar e não ir embora.. também o espelho, felizmente, não vai até aos pés. O que importa é olhar para ele de frente. Eu, por exemplo, aprendi a ver na minha cicatriz um rio. E acho que até dava uma tatuagem bem interessante, se acrescentássemos um sol.

Define amor. Ou Amor.

O amor é rir e fazer cócegas. È passar por uma fonte e molhar o outro. E andar a correr e fugir, para não ser apanhado. O Amor é tudo isso misturado com a cumplicidade, confiança e segurança.

Norte e Sul: pontos cardeais?

Infelizmente, no nosso pais não são apenas pontos cardeais. Noto isso em várias vertentes (basta ver o ódio SLB e FCP), e sei no fundo que pelo facto de uma parte de mim ser SB, isso pode fazer alguma diferença.

A que sabem as tua lágrimas? São mais doces ou mais salgadas?

As minhas lágrimas são iguais às de toda a gente. Caiem quando têm de cair, ou quando já não podemos aguentá-las cá dentro. Às vezes são muito doces, cheias de orgulhos e satisfação, mescladas com realização pessoal, de felicidade sincera. Outras vezes são salgadas, porque os meus passos poderiam ter ido mais além. E não foram.

Imagina que tens uma visão particular acerca das pessoas sem deficiência.

Não há pessoas com, não há pessoas sem. Há pessoas. Umas sabem ler chinês, outras sabem fazer contas de dividir de cabeça, outras andam 500 metros sem se cansarem, outras preferem ficar a fumar um cigarro do que dar três passos. Vai soar a cliché, mas “ todos diferentes, todos iguais.”

Uma coisa que gostes especialmente e que sejas capaz de descrever com todos os pormenores imagináveis e inimagináveis... Podes?

Nahh! Eu gosto de tanta coisa!! Só posso escolher uma?
Pode ser de comer? Pode ser de visitar? Pode ser de abraçar? E descrever assim...!! Desisto. Não consigo!


Há vida em Marte. Há?

Eu bem gostava de acreditar que sim, mas se já andamos aqui há tantos anos e eles nunca se mostraram, então é porque não devem mesmo existir... na verdade, nem isso me ocupa muito o pensamento. Se existirem, é lá com eles. Que não venham para Portugal, que já há muito desemprego.

The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn, like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes "Awww!”

Jack Kerouac.

Há mais a dizer que isto?


Nada mais! Mas ainda assim... eu diria que esse tipo de pessoas não são mad (loucas) mas sim corajosas e que sabem exactamente aquilo que querem. Que não aceitam a vida como apenas um acaso do destino, mas que estão dispostas a querer fazer alguma coisa por elas próprias!


(Obrigado, M., por tudo. Obrigado, igualmente e mais uma vez, a Andreia d'Oliveira, a autora da excelente foto supra)