30 de novembro de 2007


Em Portugal, as campanhas de dita prevenção rodoviária têm uma vertente interessante: combinam imagens chocantes, normalmente a p/b e algo desfocadas, e bandas sonoras de filmes série B com uma certa forma de higiene social que tende a instigar os condutores, os peões e os ocupantes dos veículos a cumprir escrupulosamente o Código da Estrada como se fosse uma tábua de leis reveladora do caminho para as portas do Céu.

Falam-se de mortos nas estradas como se a estrada fosse uma vala comum mas, sem querer minimizar a dor de morrer (e ver morrer, como já vi) no asfalto da beira da estrada, fala-se menos dos feridos graves, bem como dos outros feridos menos graves que poderão passar a feridos graves numa altura em que a notícia já deixou de o ser.

Para quem calcorreou, durante muitos anos, o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão e, por exemplo, o antigo hospital de Sant’Ana, ao largo da Avenida Marginal, é fácil perceber que a realidade (permanente) dos feridos graves é, do ponto de vista do aviso do risco da circulação rodoviária alucinada, muito mais útil do que as choradeiras inúteis, autoritárias e pessimamente mal conseguidas passadas nalguns meios de comunicação.

Segundo a soma dos dados relativos às estatísticas da Prevenção Rodoviária Portuguesa (hoje Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária) foram gravemente feridas, em 19 anos, 177813 (cento e setenta e sete mil oitocentas e treze) pessoas. A única coisa que, infelizmente, ainda não existe, são estatísticas referentes a quem destas pessoas é, hoje mesmo, paraplégica, tetraplégica ou algo do género.

Fonte: ANSR