15 de janeiro de 2008

Tornando as coisas verdadeiramente subjectivas, se há algo que profundamente me irrita é estar consciente, mesmo que demore, que há pessoas que não têm nada para dizer às outras pessoas e ao mundo. É uma atitude egoísta, sim, que não se deve obrigar ninguém a não ser aquilo que não é, aquilo que porventura não quer ser. Mas é assim, mesmo que possa não ser importante.

Tornando as coisas ainda mais subjectivas, para mim, ter uma deficiência é ver as coisas de outra forma, não necessariamente melhores nem mais demoradas no olhar mas é, mesmo assim, ver as coisas de outra forma. De outras formas. É ver as coisas a partir do canto cego das próprias coisas.

Quando miúdo, lembro-me de uma conversa entre mim e R. Falávamos, à medida da nossa altura, da possibilidade de as coisas dançarem entre elas quando não as víamos, quando, mesmo perto de nós, as perdíamos de vista por estarmos de costas, por estarmos distraídos, por estarmos no escuro ou por outra coisa qualquer.

Ainda hoje penso que pode ser assim e que, por qualquer razão, quando olho rapidamente pelo lado cego do meu ombro rápido, as coisas ainda podem, mesmo que em vertigem, estar a dançar por detrás dos nossos ombros tão lentos.

Em muito pouco, quem se consegue afirmar pela diferença que em si se faz por ser diferente poderá ser mais próximo das coisas do mundo, pelo mundo, por si para o mundo. Poderá entender, por infame pretensão, a aceitar-se, a aceitar a arte, a aceitar a vida e a poesia toda.

Poderá entender coisas como esta, coisas assim como esta…




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