23 de março de 2008

Domingo

Domingo de Páscoa em Portugal e no mundo, e continua a chover. A chuva cai, inteira, como se fosse um lamento da terra para com ela própria.

Aquilo que faz as instituições e os homens que as fazem parece ser, desde há muito tempo, um certo ponto de vista laico sobre o mundo. A laicidade é como uma bandeira que se desfralda quando a linguagem perde terreno, como se o fim de uma conversa se justificasse – se tornasse justa - por si próprio, quando roçamos a eternidade: quando as crenças nos deturpam sem qualquer misericórdia possível o olhar. O nosso olhar que é um só. Que é só.

As instituições – sejam as particulares, as públicas, as semi-públicas, as semi-privadas, as com fins lucrativos, as sem fins lucrativos ou outras quaisquer – não precisam, para o caso, de ser católicas, islâmicas ou ateias. Precisam, isso sim, de ter um fim em si, uma ideia que as sustente e não apenas uma quimera que as dilua num poço sem fundo de intenções.

Precisam de práctica, indiscutivelmente. Mas a práctica sugere sempre uma ideia, um conceito que as instale na própria práctica. Opiniões. Não precisam de políticas; precisam de pessoas com motivos e, antes disso, precisam de ideias para as pessoas.

A questão não é a Páscoa, é parar um pouco. Dez minutos. É como interpretar o termo, como interpretar as páscoas e as ressurreições e a salvação. É como as instituições – neste caso, todas as instituições para pessoas com deficiência - devem assumir-se perante os interesses das pessoas todas, inteiras, indo à procura delas. É não ficar à espera de outras páscoas.