11 de março de 2008


Não há nada mais democrático neste mundo que o Lidl: uma cadeia de lojas alemã criada no início dos anos 30, hoje espalhada por quase todos os países da Europa.

E nada há de mais pitoresco que os panfletos do Lidl: entre Kant, Sartre ou Camus, a publicidade ao Lidl é estupidamente mais interessante que qualquer obra-prima da Literatura. De fazer roer de inveja e frustração os intelectuais do marketing contemporâneo, aqueles folhetos atafulhados na caixa do correio são germanicamente imbatíveis - mesmo perante a literatura inclusa do Ducolax ou do Mucinum ou de outros clássicos da pharmacia.

Além disso, o Lidl traz-nos, na maior parte das vezes, coisas úteis, coisas que nós queremos. Mesmo que não as queiramos pouco antes de passar aquelas portas, aqueles corredores, uma vez pisados, apelam ao nosso desejo de querer coisas que possamos não querer naquela altura mas de que, mais tarde, iremos precisar. Mais do que isso: de que iremos fazer depender a nossa existência.

O Lidl é a nossa consciência azul e amarela. É por isso que se dá ao luxo de vender, por exemplo, um protector de coluna para motociclistas. Tem área do cóccix prolongada, cinta na cintura com peça de protecção para os rins (pode ser vendida separadamente), correias de ombro ajustáveis e – e agora é que é! – Respiração activa. As parecenças entre o motociclista e uma tartaruga ninja são as possíveis...

Tudo isto por €39, mais coisa menos coisa o preço do transporte de um acidentado com uma lesão vertebro-medular ao hospital mais próximo (caso ainda existam).

imagem: lidl.pt (adapt.)