4 de outubro de 2007


Há uns anos atrás, numa conferência sobre a Cidade (neste caso, Lisboa) e o tema (importantíssimo, embora normalmente esquecido) sobre a mobilidade, focou-se o tema da acessibilidade: a circulação das pessoas com deficiência parecia, aos olhos de muitos, difícil. Para isso, uma das explicações encontradas para tal apontava para algo pouco contornável e, por isso, interessante a quem tem que tomar decisões nesta área: a geografia da cidade, com intermináveis subidas e descidas, de calçada típica e infinitas obras de melhoramento, não tornava, digamos assim, aconselhável a circulação sem motor a pessoas com mobilidade reduzida. Lisboa, a das sete colinas, era, por isso, a única responsável por esta situação.

Ao terceiro dia, numa conversa de elevador, um arquitecto recém-formado (cujo nome, infelizmente, não recordo) discutiu comigo a possibilidade de se alterar o logótipo da pessoa com deficiência para algo mais apelativo, menos sério, menos oficial - no pior sentido do termo – e, acima de tudo, capaz de chamar a atenção das pessoas, as únicas capazes de alterar a geografia lisboeta.

Prolongou, depois, a nossa conversa, no debate sobre as conclusões daquela conferência – foi, no entanto, extremamente mal recebido (não só a ideia como ele próprio) quando sugeriu o que tínhamos abordado. Mal recebido não só porque quem mandava mas mal recebido, sobretudo e vergonha e das vergonhas, pelas próprias pessoas com deficiência ali presentes (poucas e, a meu ver, como quase sempre nestas coisas, absolutamente nada representativas do interesse geral).

Ainda hoje penso nisso, perdido o contacto com aquele arquitecto, que nunca mais vi e cujo cartão estará definitivamente perdido na amálgama kafkiana que foi e continua a ser a minha carteira. A quem, da arquitectura ou do design ou simplesmente da boa vontade, quiser continuar esta ideia, sabe que eu estou aqui, pronto para dar a ajuda que puder.

nota: um agradecimento justo e muito especial á Cris, pela ideia da trança. Ela sabe que eu sei que ela sabe...