29 de janeiro de 2008


Heinrich Heine, Poeta Alemão do séc.XIX, disse, em plena época do Romantismo, algo extraordinário: Deus perdoa sempre; é o seu trabalho.

Quando era mais pequeno, contavam-me que iria para o Céu. Tinha uma ideia um pouco estranha do Céu: imaginava bancos brancos, alinhados fila por fila e separados por espaços vazios de cerca de 15 cm, ocupados por pequenos vasos, acinzentados e esguios, que serviam de cinzeiros (e eu tinha uns 15 anos…) a quem, abancado, esperava. A espera era indeterminada; os abancados (gramaticalmente, sinónimo de fugitivos) esperavam por algo, mas esperavam com um semblante de quem sabia do que estava à espera. Tinham quase todos uma ligeira torção no nariz.

Eu, espectador, via-os sem que me vissem, sabendo que aquele, um dia, seria uma espécie de destino meu, uma espécie de destino final de férias (porque eu nasci cansado), eventualmente transitório. Os bancos eram brancos, branco cor de hospital, e não havia chão. Tudo o resto eram variações azuladas de um tema que, a não ser azul, seria cor-de-rosa. Ou talvez coisa para ser amarelo, amarelado, não sei.

Quando era pequeno, contavam-me que iria para o Céu. A justificação era simples: tens dificuldades que não conseguirás, realmente, superar (o que, hoje e agora, subscrevo inteiramente) e o Céu será a tua forma de compensação.

Como se Deus me pedisse desculpa e me garantisse o Céu. Como se isso fosse, de certo modo, o seu trabalho.

imagem: Heinrich Heine, wikipedia